NOTA COM INFORMAÇÕES E REFLEXÕES SOBRE A MATÉRIA DO FANTÁSTICO COM DENÚNCIAS SOBRE IRREGULARIDADES NA COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS
Por questões alheias a nossa vontade não tivemos oportunidade
de esclarecer, para a equipe responsável pela matéria vinculada no Fantástico,
alguns pontos que entendemos ser importante que sejam de conhecimento da
sociedade, sobre o funcionamento dos mecanismos de controle, previstos pela
legislação brasileira, para a garantia da qualidade orgânica.
Uma das
características mais marcantes da nossa legislação é o reconhecimento que ela
traz da importância do controle social, que foi a base do movimento orgânico no
mundo inteiro, pela aproximação entre os produtores e os demais interessados em
viabilizar a produção de alimentos diferenciados, sem o uso de insumos e
práticas que possam colocar em risco a saúde humana e o meio ambiente.
Essa
característica fez com que criássemos a possibilidade de que pequenos
produtores, que muitas vezes não teriam viabilidade econômica para entrar num
processo de certificação, pudessem colocar legalmente no mercado, seus produtos
orgânicos. A comprovação da importância desta medida é termos fechado o ano de
2015 com 3.699 agricultores familiares, participantes de 260 organizações de
controle social, cadastradas no MAPA.
Reconhecer a
importância do controle social é afirmar que temos a certeza de que algo tão
sério e complexo como é a garantia da qualidade orgânica não pode ser da
responsabilidade exclusiva de ninguém. A identificação de um produto como
“Orgânico” pode ser considerado, hoje em dia, quase como uma marca coletiva
mundial. As boas ou más notícias sobre orgânicos ajudam ou prejudicam os
produtores orgânicos no mundo todo e, portanto, são eles os principais
interessados em criar meios para não permitir que pessoas mal-intencionadas
possam entrar nesse mercado e denegrir a boa imagem que eles vêm construindo ao
longo de décadas.
Cabe a nós,
governo, criar mecanismos que possibilitem minimizar os riscos de fraude e
garantir a aplicação de medidas punitivas, sempre que forem necessárias. Esses
mecanismos vem sendo implementados desde 2011, quando entrou em vigor a nossa
legislação.
O MAPA audita pelo menos, uma vez ao
ano, os 25 organismos certificadores credenciados para atuarem no Brasil, que
fazem a inspeção e controle de 8.467 produtores orgânicos certificados. O
controle é feito, também, por ações de fiscalização do Ministério nas unidades
de produção e pontos de comercialização. Essas ações se baseiam numa
sistemática de amostragem e sempre que surgem denúncias ou suspeitas.
Sempre foi
claro para nós, que ao incentivar a valorização do produto orgânico e a
ampliação do mercado interno, aumentaria o risco de oportunistas mal
intencionados começarem a fraudar esses produtos, principalmente nos momentos
de comercialização. Daí a importância de esclarecer aos consumidores sobre
os cuidados que devem ter ao comprar esses produtos. Uma primeira atenção é a
de observar se o produto orgânico, embalado, que está sendo ofertado no
mercado, tem no rótulo o selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da
Conformidade Orgânica. No caso da compra direta de agricultores
familiares que comercializam sem certificação, o consumidor deve sempre
solicitar, a eles, a apresentação do documento que comprova o seu
cadastramento, como produtor orgânico habilitado para fazer a comercialização
de seus produtos, emitido pelo MAPA e que deve estar presente no local de
comercialização. É importante orientar que os consumidores peçam, também,
informações sobre como os produtores manejam suas propriedades e conduzem suas
atividades de produção e, sempre que possível, façam visitas às propriedades
desses produtores que são obrigados a recebê-los.
Outro importante
instrumento para ajudar a confirmar a identificação dos produtores orgânicos é
o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos que pode ser acessado por qualquer
pessoa no site do MAPA www.agricultura.gov.br/organicos. Basta ter o nome e o CPF ou CNPJ do
produtor para poder fazer a busca e confirmar a situação do produtor.
Outra medida
importante para ampliar o controle social na qualidade orgânica são as Comissões da Produção Orgânica
(CPOrgs) que existem em cada unidade da federação. Essas Comissões são
compostas, de forma paritária, por representantes de entidades da sociedade
civil e do governo, que atuam ou tem interesse na produção orgânica. Essa
grande rede conta atualmente com a participação de mais de 500 entidades em
todo Brasil que têm entre as suas finalidades o assessoramento ao Sistema
Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. São milhares de pessoas
espalhadas por todo território nacional, que atuam na pesquisa, ensino,
assistência técnica, fiscalização, produção, processamento, comércio e defesa
do consumidor, interessadas em garantir o controle da qualidade e da imagem dos
produtos orgânicos que são comercializados no Brasil.
Para dar
mais força e autonomia às CPOrgs, o MAPA alterou em 2015 a Instrução Normativa
que as regulamenta, passando as suas Coordenações para representantes da
sociedade civil, eleitos entre eles, em suas assembleias. Estamos entrando em
2016 com as CPOrgs todas renovadas e passando a funcionar dentro dos novos
moldes.
É muito
importante alertar a todos que façam sua denúncia sempre que encontrarem
situações que indiquem possíveis fraudes ou outras irregularidades que possam
comprometer a qualidade orgânica ou que possam levar os consumidores ao engano. Recomendamos que a melhor
maneira para isto é utilizar o canal da ouvidoria do MAPA, pelo e-mail ouvidoria@agricultura.gov.br ou pelo telefone gratuito 0800 704
1995.
Lamentamos
profundamente que alguns poucos casos apresentados no programa que foi ao ar no
domingo passado possam passar a ideia de que todos devem ser postos sob
suspeita. O que não foi dito, por exemplo, é a CIDASC realizou análises em
1.122 amostras de produtos comercializados como orgânicos em Santa Catarina e,
desse total foram constatadas a presença de resíduos em amostras de 45
produtores. Após a apuração dos fatos pela fiscalização, ficou comprovado
que apenas 6 produtores orgânicos, dos 988 que existem no estado tinham
casos de contaminação por uso intencional de substâncias proibidas na produção
orgânica e que todos foram autuados e penalizados. Estes números nos dão algo
em torno 0,6%.
Outra
informação não divulgada na matéria é que de 2011 até 2015 já tivemos 2.496
produtores excluídos do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos e, temos
atualmente, 261 produtores suspensos. Se considerarmos que atualmente existem
12.136 produtores ativos no Cadastro, podemos avaliar a efetividade da atuação
dos mecanismos de controle em vigor.
Já ciente de
que a ampliação do mercado de orgânicos traz junto consigo o aumento do risco
para os consumidores da mistura intencional, ou não, de produtos produzidos de
forma convencional com os orgânicos, principalmente nas etapas relativas à
comercialização, o MAPA iniciou em novembro de 2015 a coleta de amostras de
produtos orgânicos nos locais de comercialização. Esta prática foi
iniciada primeiramente em Brasília para
ajustes de procedimentos e será adotada em todo o país até o final deste
ano, sendo que ainda neste trimestre já será aplicada em Pernambuco e
Rio de Janeiro, de forma sistemática e em alguns outros estados em função de
possíveis indícios de irregularidades.
A preparação
deste novo trabalho vem sendo organizada há mais de 2 anos com a estruturação
de uma rede de laboratórios capacitados para detecção de resíduos e
contaminantes numa parceria entre MAPA e MCTI envolvendo laboratórios de
universidades e instituições de pesquisa em diferentes partes do País.
Como
resultado do trabalho feito em Brasília, nesta primeira fase, foram coletadas
amostras de cenoura, maçã, pimentão, batata, couve, uva, cebola e abobrinha e
todos os laudos deram negativos para a presença de agrotóxicos.
Para
finalizar destacamos que reconhecemos e temos demandado continuamente a
necessidade da ampliação de nossos quadros técnicos bem como o investimento em
capacitação de um número cada vez maior de profissionais para que possam atuar
na orientação, inspeção e fiscalização da qualidade orgânica, de forma a
atender o tão bem-vindo crescimento desse setor.
Rogério
Dias
Coordenador
de Agroecologia
Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
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